Resenha: Supernova- O encantador de flechas, de Renan Carvalho

Edição: 2ª
Editora: Novo Conceito
ISBN: 9788581636795
Ano: 2015
Páginas: 440
Sinopse: Imersa em uma ditadura implacável, a isolada cidade de Acigam sofre com a ameaça da guerra civil. De um lado, a Guilda, um grupo que utiliza os ensinamentos da Ciência das Energias para exigir direitos para a população. Do outro, um governo tirano, resguardado por soldados especialistas em aniquilar magos — nome vulgar dado aos praticantes da tal ciência. No meio desse conflito vive Leran, que, após ser tragado para a rebelião, tenta aprender mais sobre sua misteriosa habilidade de encantar objetos com a energia dos elementos.
Com uma narrativa envolvente e reviravoltas incríveis, Supernova: O Encantador de Flechas é um livro que vai arrebatar os fãs de fantasia.

Resenha

Quando recebi meu exemplar em casa, suspirei pesadamente. Logo imaginei que seria mais um infanto-juvenil copiado de tantos outros.

Só de olhar a capa e ler a sinopse, a preconceituosa aqui pensou: lá vem mais uma distopia adolescente, provavelmente uma mistura sem sal de Harry Potter e Jogos Vorazes.

Não poderia estar mais equivocada (\o/ YAY!!!). A má impressão não resistiu à primeira página, e logo estava apaixonada, tamanha a habilidade da escrita do Renan.

Logo no princípio do livro, o autor deixa claro que, apesar de envolver magia, a revolta da trama é focada na luta financeira e política entre o Governo e os comerciantes que, apenas por acaso, também são  magos.

... Isso confirma minha teoria: o motivo do conflito atual é muito mais financeiro e político do que algo relacionado ao controle*. Os magos estão envolvidos pela simples coincidência de que essa prática é mais comum na classe comerciante. Hoje, o controle* é a única arma que eles têm contra o governo. - Leran Yandel, capítulo 4, página 58.

*Obs: Controle é como a "magia " é chamada no livro, referindo- se à capacidade de controlar os 18 elementos naturais apresentados na história.

 O fato de não ser uma disputa puramente mágica, aproxima a história de nossa realidade, ainda que Acigam faça parte de um mundo fictício. Em linhas gerais, a mensagem de Renan é clara, passada através de pensamentos do jovem Leran Yandel: a melhor forma de combater tiranos é o conhecimento, e eles farão de tudo para que as pessoas não tenham acesso a ele.

Traçar paralelos entre ficção e realidade é inevitável, ainda mais eu sendo funcionária pública da Secretaria de Educação de São Paulo. Não é piração minha, a mensagem é apresentada de forma muito incisiva, e inteligente pelo autor.

...Não parece que têm vontade de mudar as coisas. Na verdade, nem sabem que a vida pode ser diferente... mas eu sei. Essa mediocridade não é para mim. (...) Sou muito maior do que tudo isso. Meu potencial é desperdiçado dentro desse sistema. - Leran Yandel, capítulo 3, páginas 48 e 49.

Fora a inteligente crítica social, o enredo é recheado de personagens cativantes e bem construídas, e escapa da visão infantil que cria uma dicotomia entre o grupo que só tem "malvados" e o que só tem "bonzinhos". Através de duas personagens de grupos distintos, Renan nos mostra pessoas "cinzas", tornando a história muito mais interessante e real - algo como os PoV de Martin, mas que são trocados com menos frequência- ajudando o leitor a enxergar e entender a postura de cada personagem.

Cada personagem tem um elemento que o guia, Leran é impulsivo pois é um controlador de fogo, sua irmã Luana, apesar de ter habilidades com todas as energias, aparenta ter melhor capacidade com as trevas, então mesmo os bonzinhos podem ter algo obscuro dentro de si, conforme a linda fábula que Renan escreve no Prólogo , e que já me capturou de início.

Eu sei que estou enchendo de passagens do livro, mas é lindo, olhem só:

"Treva os convidou para examinar a criação com cuidado. Mostrou-lhes que, ao girar o globo, ela criara o Equilíbrio, força capaz de reger todas as energias e elementos colocados ali por eles. A partir daquele momento, a esfera teria as mesmas proporções de luz e sombra, de frio e calor, de alegria e tristeza, de bem e de mal... Sem deixar que os irmãos percebessem, ela despejou, em cada pequena parte do mundo, um pouco de trevas." -Prólogo, página 13 - A criação do mundo.

Outro fator que me fez apaixonar pelo livro foi que Leran, apesar de exercer um papel importante na Guilda, não é o centro do embate, não é o "Escolhido", não é superior aos seus pares nem no aspecto físico, nem no mágico, é apenas mais um no grupo, que representa um papel importante, mas não indispensável.

Tudo isso somado a cenas de batalha incrivelmente bem construídas e de tirar o fôlego, mostram que a série Supernova está longe de se utilizar das fórmulas batidas que andam pipocando pela literatura, e que tanto me cansam. Pelo contrário, é uma história original, surpreendente, com boas e bem construídas reviravoltas (embora não inesperadas, para os aficionados em leitura de aventura e fantasia), que realmente dão brilho e fluidez à história.

Pra fechar com chave de ouro, mais um fator que me impressionou, foi que o romance entre Judra e Leran está no ponto, sem atrapalhar a dinâmica do enredo, sem melar, sem aparecer em momentos inoportunos, coisa raríssima de se ver, mesmo. Parece que Renan deve ser um leitor tão chato como eu. Huahauhauhau.

Pra não dizer que não há nadinha a reclamar, eu que sou chata, mando duas reclamações:

Meu exemplar veio com um aviso de que possuía ilustrações inéditas, e eu logo me animei. Mas ao abrir o livro e vê-las, não fiquei muito empolgada. ( E vocês tão carecas de saber que eu sou ""A" empolgada com ilustrações.) Não é que o traço seja ruim, é lindo. Mas a história é tão energética e vibrante, que eu esperava algo de mais impacto, mais forte, colorido, sei lá. Chatice minha, mesmo.

Ó só: é bonito? É! Podia ser fantasticamente maravilhoso se fosse mais colorido ou mais marcado?

PODIA! Não podia?

Por fim, a minha reclamação de sempre: é série, e ainda está sendo escrita, e eu vou morrer até lá (George Martin feelings). Pelo menos meu exemplar veio com uma provinha de "A estrela dos Mortos" ( e também um capítulo extra de Judra), e sei onde foram parar Leran e a irmã Luana.

Paciência, pelo que vi até aqui a série Supernova vai valer a espera!