Resenha: Uma Viagem através dos mitos, de Liz Greene e Juliet Sharman- Burke

21 janeiro 2015



SinopseEsse livro revela de que maneira os mitos podem nos auxiliar a compreender a vida e saber vivê-la. Explorando os temas psicológicos de muitas tradições míticas, as autoras guiam os leitores desde os conflitos familiares e infantis, passando pelas questões relativas ao amor, à intimidade e à ambição, até chegar ao momento em que temos de enfrentar nossa mortalidade – fazendo de Uma viagem através dos mitos um verdadeiro manual para a vida. Histórias das civilizações greco-romana, hebraica, egípcia, celta, norueguesa e oriental são analisadas de uma perspectiva contemporânea, facilitando a identificação do leitor. Belíssimas ilustrações a bico de pena complementam e enriquecem o livro.Alguns dos mitos tratados:Osíris, Íris e Hórus • Caim e Abel • Rômulo e Remo • Antígona • Adão e Eva • Buda • Eco e Narciso • Sansão e Dalila • Merlin • Jó • Orfeu e Eurídice • Artur e Guinevere • O Minotauro • Fausto • Hera e Hefesto • Ulisses e Penélope • e muitos outros.

Edição: 
Editora: Jorge Zahar 
ISBN: 8571105839
Ano: 2000
Páginas: 212

Oláaaaaaaaaa crianças!!!
Eu tô mais velha, então voltei no meu baú de livros antigos pra apresentar pra vocês mais um dos meus favoritos da adolescência.
Eu sou uma leitora às  avessas. Não gosto tanto do livro perfeito e intacto quanto do totalmente descascado, gasto torto e velho. Isso porque o segundo é obviamente o que eu carreguei pra todo canto e reli mil vezes, portanto o mais amado.
Eu já contei pra vocês que eu era uma menina estranha???? Hauhauhauahuahauhauhu.
Meu livro favorito, carregado pra cima e pra baixo na mesma mochila suja cheia de papel de chiclete em que o dicionário de insultos ficava, pra ser lido e relido nas aulas vagas (que eram MUITAS, uma vez que eu estudei em escola pública) era esta pequena jóia.
Bem, tinha também o Grande Livro dos Mitos Gregos  que eu emprestava da Biblioteca Municipal semana sim outra também, mas este não era meu, então ficava bonitinho em casa.
A autora Liz Greene e a psicoterapeuta Juliet Sharman- Burke, ambas estudiosas de tarô, astrologia e "otras cositas más", fazem uma leitura dos mitos mais conhecidos de várias culturas, como a história de Caim e Abel, Orfeu e Eurídice, Merlin, e os Tuatha Dé Danann, entre muitos outros.

Apresentados pelas autoras como a psicologia de auto- ajuda original, os mitos são comentados, um a um. Nestes comentários as autoras apontam semelhanças entre as histórias, analisam simbologias e destrincham os significados de cada uma das histórias.
É uma forma interessante de ler os tais mitos. Mais do que a moral da história, Liz e Juliet  propõem uma analise e comparação dos mitos com a vida real.
Sim, eu avisei que eu era uma menina estranha.

Negócio é o seguinte: se você é curioso, gosta de mitologia e psicologia, e filosofia, e um monte de outras "IAS", vai gostar bastante deste livro, porque ele é um toque a mais, um algo além da história. Nele, as autoras transmitem uma visão mais aprofundada das histórias, um entendimento real de seu significado, um novo olhar sobre algo tão menosprezado por tantos.
Meu livro tem uma porção de anotações minhas, e foi interessante vê-las agora, tantos anos depois.
Uma de minhas anotações foi acerca do mito de Cibele e Átis (se você não conhece, leia aqui, é retirado do próprio livro), e eu me lembro EXATAMENTE quem foi o causador desta anotação. Huahuahuahuauah.

Adicionei, tantos anos depois, uma nova marcação. Eu e o namorado (Ulisses, coincidentemente) sempre nos tratamos como se fossemos os próprios Ulisses e Penélope. Só que imaginávamos que já estávamos reunidos em Ítaca, até agosto do ano passado, quando as coisas ficaram feias, e ele mudou de estado. Conto isso pra vocês, porque já venho dando dicas em outros post da minha situação, e achei que era importante para situá-los, pois vou transcrever o trecho marcado aqui.
Resolvi colocar este trecho do livro aqui, não só porque eu chorei igual uma maluca relendo isso, mas também para vocês entenderem como funcionam os comentários nos livros. Não é nada muito absurdo, nada exagerado. Eu mesma, odeio "leituras" onde um rato vira o pai, que abandonou e a inveja do falo, e mimimi, mil outras coisas. 
Neste livro, não é assim que funciona. É algo mais simples, mais natural. Segue o trecho:

O mito de Ulisses e Penélope mostra um relacionamento que resiste ao tempo, à tentação e à longa separação. Mas isso ocorre unicamente porque os dois mantém sua confiança um no outro, recusando-se a abrir mão dos seus ideais comuns.
Ambos são duramente testados e, vez por outra, cometem erros; em algumas versões do mito, tanto Penélope quanto Ulisses se entregam a outros amores, o que talvez sejacompreensível, considerando-se uma separação de vinte anos. Mas seu amor e interesse um pelo outro e pelo filho os une de maneira absoluta, e sustenta a ambos em seus momentos mais difíceis.
Na grande epopeia de Homero, A Odisseia, Ulisses pensa em Penélope e Telêmaco todas as vezes que corre o risco de se deixar apaixonar pelas várias mulheres que o tentam ao longo do caminho. Elas conseguem seduzi-lo,mas não tocar seu coração realmente, pois este já foi entregue.
A imagem de penélope tecendo prendeu a imaginação dos leitores por mais de dois mil anos. O que ela tece de dia e desfaz a noite é uma mortalha. O que isso pode significar, como imagem do que sustenta sua lealdade, mesmo ao lhe serem oferecidas companhias que poderiam pôr fim a sua solidão? A mortalha traz o tema da morte- a morte do amor, o abandono do passado, o rompimento de laços e vínculos antigos.Embora nos momentos em que está à vista de todos, ela continue a fazer seu trabalho, Penélope o desfaz quando está sozinha, recusando-se a abrir mão do amor, da lembrança e do passado tecido e compartilhado com o marido ausente.
Tecer é também uma imagem arquetípica da própria vida, uma trama feita de muitos fios, experiências, sentimentos e acontecimentos diferentes. Cada um de nós tem uma história singular, que começamos a tecer no nascimento e concluímos na morte. Penélope se recusa a aceitar que a trama e a tecitura de sua vida pregressa estejam completas; não busca o passado e nem o futuro; vive aqui e agora, fiel a seus instintos e sentimentos, recusando-se a ser pressionada a abandonar a esperança,mas se recusando igualmente a se tornar presa das fantasias infrutíferas. Na verdade, ela vive o momento, plena e profundamente, e a mortalha que finge tecer é apenas um meio de se proteger da importunação dos pretendentes.Essa capacidade de aceitar cada momento tal como é, de continuar fiel ao próprio coração, a despeito do que os outros insistam em dizer que é a realidade, talvez seja a verdadeira chave da resistência desse casamento mítico. Para Ulisses, a lembrança da mulher e do filho é o que o mantém comprometido com seus valores e desejos mais profundos; a capacidade de Penélope de se manter serena e calma no presente, recusando-se a dizer a si mesma que "o amor acabou", é algo que talvez tenhamos um imenso trabalho pra encontrar.
A natureza do amor desafia o tempo, a distância e a perda física e, ao lado da arte superior e dos momentos de visão mística, talvez seja a única coisa, dentre as que podem ser experimentadas por nós, mortais, que nos permite vislumbrar o eterno. Quando o encontramos, mesmo por breves instantes, no contexto de uma relação próxima, descobrimos um dos grandes segredos da imortalidade.(...)

Liz Greene e Juliet Sharman-Burke em "Uma Viagem através dos Mitos"

É isso, este foi e ainda é um livro muito querido meu, e espero que eu tenha conseguido resenhá-lo de forma que cause interesse em alguém. Eu tô meio grogue de anestesia e anti inflamatório, (tô fazendo um canal, diliça) e com o julgamento meio comprometido (HAHAHHAHA), mas se tiver ruim, fala aí.
Beijôncios.

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