Edição: 1
Editora: nVersos
ISBN: 9788584440795
Ano: 2016
Páginas: 176
Sinopse:“A mentira que me fez ser presa, espancada e violada para o resto da minha vida, por ter sido acusada de matar minha filha Victória, de 1 ano e 3 meses, com cocaína na mamadeira.” Segundo turno da eleição presidencial no Brasil. Enquanto brasileiros se levantam para ir às urnas e decidir o futuro do país, num pequeno pronto-socorro localizado na interiorana Taubaté, a 120 quilômetros de São Paulo, uma jovem de apenas 21 anos tem o rumo de seu destino, terrível e irremediavelmente alterado. A dona de casa foi presa, acusada de matar a filha de 1 ano e 3 meses. Segundo a polícia ela havia colocado cocaína na mamadeira da criança. Após ser presa, espancada e sofrer graves sequelas pelo resto da vida um laudo aponta que as substâncias encontradas foram receitadas. A jovem conta tudo que passou neste livro comovente.
TRISTEZA EM PÓ a história verídica de uma das maiores injustiças e maldades contra uma mãe que a medicina, a justiça e a mídia cometeram no Brasil.
Através de um relato comovente, Daniele Toledo conta o seu drama, sobre ter sido acusada injustamente de matar sua filha Victória, de 1 ano e 3 meses, com cocaína na mamadeira. Uma mentira que a levou à prisão e deixou marcas profundas para o resto de sua vida.
Os depoimentos de Daniele, são repletos de emoção do começo ao fim do livro, e revela o retrato de um lado sórdido e obscuro da história, trazendo à tona os detalhes cruéis do que ocorreu, levando o leitor a uma reflexão sobre os valores e as atitudes impensadas que a fez passar por tanto sofrimento injustamente.
Resenha
Oi Gente,
há um tempo atrás eu fiz a leitura de Tristeza em Pó para o Fundo Falso, blog da Andréa Bistafa, no qual eu sou colunista e hoje eu resolvi trazer essa resenha pra cá também, pois esse livro tem uma história muito forte e eu acho que todos deveriam lê-lo por isso darei a ele o máximo de divulgação que eu puder.
Eu achei que terminaria a leitura de Tristeza em pó desolada, mas não, fiquei triste sim, mas o que me dominou de fato durante todo o curto espaço de tempo que eu passei com o livro foi a revolta. Uma das frases da Daniele na obra me tocou muito porque senti isso na pele no tempo que passei com a minha mãe no hospital, quem já esteve com parente, ou internado na ala pública de um hospital universitário sabe que é assim. Você se sente como uma atração de zoológico, as vezes parece que estudar medicina mina um pouco a humanidade de algumas pessoas.
"Como o hospital escola era um centro de formandos, muitos alunos e professores passavam no quarto dela pra estudar o caso. A vitória era uma atração ali.
Foi muito triste o que a gente viveu."
A biografia da Daniele é um daqueles livros que soca a sua cara repetidamente, é o relato fidedigno da vida de uma mulher pobre no Brasil, um país machista, preconceituoso, elitista e corrupto. Para nós que estamos do lado de cá da faixa de pobreza, ouvir o relato da vida da dela nos trás uma sensação de representatividade.
Quem já foi uma daniele?
Quem escapou de ser uma daniele?
Quantas e quantas mulheres já podem ter sido violentadas dentro dos nossos hospitais sucateados e se calado, com medo de represálias, com medo de não acreditarem?
Porque estupro é o único crime que ao invés de se fazer justiça vão em busca dos antecedentes da vítima.
Pra quem está do lado de lá dessa linha de pobreza, essa história pode servir para abrir os seus olhos para essa injustiça social, pode te fazer refletir e quem sabe até mesmo, fazer a sua parte de alguma forma.
Em Tristeza em Pó, Daniele Toledo nos conta de um maneira pessoal, com uma linguagem simples, clara e coerente a história da sua vida, desde a adolescência quando foi usuária de cocaína, vício que veio abandonar algum tempo depois, quando se descobriu grávida do seu primeiro filho. Da separação do primeiro namorado ao início do outro relacionamento, ao qual deu a luz a Vitória, ou Tótoia como ela gosta de chamar, menina frágil que já recebeu esse nome devido a vitória que alcançou por sobreviver, passou boa parte de sua vida entrando e saindo do hospital.
A menina sofria de alguma doença que nunca foi realmente diagnosticada e foi numa dessas entradas com a filha em mais uma internação no Hospital Universitário de Taubaté que Daniele aos 21 anos foi estuprada por um estudante do 5° ano de medicina, dentro do próprio hospital e não se calou. Mesmo recebendo ameaças de desconhecidos e tentativas de suborno, sendo inclusive transportada com a filha para um quarto particular dentro do próprio hospital, Daniele não aceitou, identificou o estuprador e manteve a acusação. Dias depois foi dada a alta da sua filha ainda doente. Uma vez em casa Vitória volta a passar mal, Daniele retorna com a menina para o hospital e tem o internamento negado, ao ver a piora no quadro da menina as médicas de plantão a medicam de qualquer forma, minutos depois a menina acaba vindo a óbito. Testes rápidos são feitos em uma substância branca encontrada na boca da menina e acusam Daniele de ter assassinado a filha colocando cocaína na sua mamadeira.
A mídia sensacionalista já está a postos na porta da delegacia e a imagem de Daniele é veiculada na televisão aberta, não como acusadora, mas como culpada de ter matado a filha, e ela recebe do Datena a alcunha de O Monstro da Mamadeira. Ela é levada para o presidio e é lógico que a notícia chega rapidamente. Assim como estupradores em presídios masculinos, em presídios femininos não há piedade para quem agride ou mata crianças, e assim Daniele é barbaramente espancada e só não morre, porque creio eu, aquela não era a sua hora. Tem início ai uma grande jornada de Daniele pelo sistema carcerário, durante muito tempo lhe foi negada até mesmo a assistência jurídica, até que a jornalista Cristina Christiano percebe que há algo errado naquela história e resolve se envolver em busca de justiça e esclarecimento dos fatos.
Vou parar o resumão por aqui, apesar que ainda que eu conte a vocês tudo o que li, jamais será a mesma coisa de vocês lerem o relato emocionante dessa mulher. A história da Daniele é chocante, porque poderia ser eu ou você. Porque mostra o que há de pior nas pessoas, que para omitir um estupro foram capaz de negar atendimento a uma criança e deixa-la morrer, acusando logo em seguida a própria mãe de assassinato, não a permitindo sequer sofrer a morte da sua filha. Mostra a corrupção na advocacia, de pessoas que utilizam o sofrimento alheio como trampolim. Mostra como a mídia pode destruir em segundos a vida de uma pessoa, liberando uma notícia falsa por mero sensacionalismo. Mas, também mostra que existem profissionais que vão em busca da verdade e são capazes de salvar vidas. Mostra como é possível dar a volta por cima, mesmo que os danos sejam permanentes. Mesmo que no final da história a Vitória não volte, que a causa da sua morte nunca tenha sido determinada, que a Daniele ainda lute com o governo do estado de São Paulo pela indenização devido aos danos permanetes que a sua saúde sofreu durante a sua prisão injusta. E que o estudante que a estuprou, tenha saído impune de tudo e hoje seja um médico atuante e renomado. Ainda teremos a esperança de que viveremos em um tempo, onde não temeremos ser mais uma daniele, num hospital, na rua, numa escola...
na nossa própria casa.
Recomendo a leitura desse livro para todas as pessoas, com o discernimento e a maturidade suficiente para entende-lo. Recomendo especialmente as mães, aos pais, aos estudantes de jornalismo e aos jornalistas formados, não cometam o mesmo erro do Datena, de destruir uma vida e nunca sequer ter se retratado. Recomendo aos estudantes de direito, aos advogados e advogadas em exercício, aos juízes e juízas, aos carcereiros e carcereiras, aos estudantes de medicina, aos médicos e médicas, as enfermeiras e enfermeiros. Essa sem dúvida será uma leitura enriquecedora PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA, PARA QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA.
#SomostodasDanieleToledo.
Obrigada pela visita, não deixem de deixar seu comentário.
Beijoooos
Beijoooos
Cara, só de ler essa resenha já me dá uma coisa tão ruim, uma raiva, acho que ia desmoronar com esse livro.
ResponderExcluirNão sei como essa mãe aguentou tudo isso. Horrível.