Resenha: Fábrica de Vespas - Iain Banks

13 março 2017




Edição: 1
Editora: DarkSide® Books
ISBN: 9788594540065
Ano: 2016
Páginas: 240
Tradutor: Leandro Durazzo
Sinopse:Frank – um garoto de 16 anos bastante incomum – vive com seu pai em um vilarejo afastado, em uma ilha escocesa. A vida deles, para dizer o mínimo, não é nada convencional. A mãe de Frank os abandonou anos atrás; Eric, seu irmão mais velho, está confinado em um hospital psiquiátrico; e seu pai é um excêntrico sem tamanho. Para aliviar suas angústias e frustrações, Frank começa a praticar estranhos atos de violência, criando bizarros rituais diários onde encontra algum alívio e consolo. Suas únicas tentativas de contato com o mundo exterior são Jamie, seu amigo anão, com quem bebe no pub local, e os animais que persegue ao redor da ilha.
Abandonado à própria sorte para observar a natureza e inventar sua própria teologia – a maneira do Robinson Crusoé de Daniel Defoe –, Frank desconhece a escola e o serviço social, já que seu pai acredita na educação “natural”, recomendada pelo filósofo do século XVIII Jean-Jacques Rousseau e apresentada em seu romance Emílio, ou Da Educação (1762), que sugere que as crianças devem crescer entre as belezas da natureza, permitindo que elas se deleitem com a flora e a fauna. A natureza humana seria boa a princípio, mas corrompida pela civilização. Quando descobre que Eric fugiu do hospital, Frank tem que preparar o terreno para o inevitável retorno de seu irmão – um acontecimento que implode os mistérios do passado e vai mudar a vida de Frank por completo.



"A Morte é sempre excitante, sempre faz com que você perceba quão vivo e vulnerável está, mas quão sortudo é."

Hello people   
Hoje eu trago para vocês a resenha de Fábrica de Vespas de Iain Banks.
A obra proporciona uma leitura densa, pois ela é narrada em primeira pessoa por Frank um garoto de 16 anos, com uma clara personalidade sociopata. A narrativa se desenvolve em sua grande maioria na esfera do pensamento, o que acaba proporcionando um texto com parágrafos enormes e poucos diálogos, configurando assim, para alguns uma leitura mais lenta e pouco dinâmica. Foi devido a isso que após começar a leitura eu parei um pouco e direcionei minha atenção pra outras obras, porque simplesmente a não estava fluindo.
Talvez porque eu, assim como vários outros leitores, como eu percebi pelas resenhas no Skoob, criamos em nossas cabeças uma expectativa errônea de que pelo livro contar a história de um sociopata, ele teria uma narrativa frenética de sangue e crime e não é bem assim que a banda toca. E o erro é nosso, pois em momento algum isso foi divulgado, e quem cria a fantasia é que deve se responsabilizar por ela, no caso nós leitores.

Algumas semanas depois, passado esse primeiro impacto da obra não ser o que eu imaginava, eu resolvi pegar novamente o livro e surpreendentemente a leitura fluiu extremamente rápido. Fábrica de Vespas é uma obra completamente psicológica. Eu acabei mergulhando na cabeça de Frank e não queria mais sair.

No início da história ele nos conta que já matou três pessoas, no caso 3 crianças, assim como ele era, mas já há muito tempo ele não mata. Ele mora com seu pai numa ilha isolada, raramente vê pessoas de fora e quase sempre gasta as horas do seu dia em simular batalhas inexistentes contra as carcaças de animais que encontra na rua ou que ele próprio mata. Ele tem certa atração por armas num geral e adora construí-las, com os recursos que dispõe na ilha.
Frank é um personagem muito interessante devido a sua personalidade, de modo que, ainda que ele não tivesse colocado em sua narrativa que já havia matado, vários detalhes entregariam a sua natureza psicopata; Ele é extremamente inteligente, perfeccionista, tem mania de limpeza, TOC, é bastante misógino, ente outras coisas. Mas uma das coisas que mais me chamaram atenção, foi o fato dele em um momento declarar que existe uma parte dentro dele, que sabe que aquilo é errado, que sabe que ele não deveria fazer aquilo, mas ele ignora essa parte. Isso me fez perceber o quão minucioso foi o autor ao desenvolver a personalidade do personagem. Iain não criou Frank para corresponder ao esteriótipo de um psicopata completamente sem sentimentos, ele os tem, ele só não se importa.

Se tem uma coisa que a obra me fez pensar foi que as pessoas são fruto do meio onde vivem, pois além dessa predisposição sociopata, e tendo um "motivo real" para matar (entre aspas, porque esse motivo que ele se dá é só mais uma desculpa. Fred é cria de um lar completamente desestruturado. O pai é meio que alheio a realidade do filho, uma mãe que o abandonou após o parto, voltando um tempo depois só pra repetir isso novamente e um irmão mais velho que enlouqueceu e passou a torturar animais, não é difícil não pensar que uma maçã nunca cai longe da árvore.

A Escrita do Iain é profunda e forte, exprime várias críticas sociais, em vários quotes fortes e completamente convincentes, que me levaram a concordar com o perturbado Frank por diversas vezes. Esse trecho em especial, me lembra até mesmo a atual situação política do país.


"Sempre me pareceu que as pessoas não votam num novo governo porque elas concordam com a sua política, mas só porque elas querem alguma mudança. De alguma forma elas acham que as coisas vão ser melhores com um pessoal novo. Bom, as pessoas são estúpidas, mas essas coisas sempre parecem ter mais a ver com humores, caprichos e atmosfera social do que com argumentos bem-pensados."

A trama é incômoda em alguns momentos, perturbadora, o grau de frieza de Frank em relação as suas ações, aos seus crimes, causa no mínimo algum desconforto. Ele é completamente sádico, Paralelamente acompanhamos a promessa da fuga de seu irmão Eric do Manicômio e a sua perseguição aos cães no meio do caminho. Perseguição essa que incomoda Frank que não gosta que Eric maltrate os bichinhos. Diversas vezes Frank enfatiza a loucura de Eric, mas convenientemente fecha os olhos pra sua própria.

No final das contas Fábrica de Vespas é isso, uma trama que incomoda, perturba, te faz pensar sobre várias coisas e até mesmo questionar a sua própria personalidade. E o final é surpreendente, inesperado, me fez parar no tempo e me perguntar, quem de fato era o mais psicopata dessa história. Quando viemos a entender ao que se refere o título Fábrica de Vespas, não é nada do que imaginávamos, mas ainda assim é muito bizarro.

Enfim Fábrica de Vespas me ganhou aos inicio do segundo tempo e é sim uma leitura que eu recomendo, sem dúvidas, mas recomendo também que vá preparado pra encontrar uma trama que vai te fazer pensar e não simplesmente jogar todos os fatos mastigados no seu colo. Tudo está nas entrelinhas.
Como sempre a edição da Darkside Books está maravilhosa, a capa é super interessante, condiz com o enredo, a tradução, a diagramação e a revisão completamente impecáveis.

Espero que vocês tenham gostado da resenha,
Beijos.



10 comentários:

  1. Oi, Kris!
    Premissa por vezes até complexa, e interessante toda essa abordagem mais reflexiva que a história carrega, mas dentro de um contexto e personagens tão pesados, definitivamente não faz o meu tipo de leitura. Não tenho muito estômago temas de psicopatia ou mesmo paciência com personagens frios assim, por maiores que realmente tenham os pontos positivos que você ressaltou. Para quem curte o estilo, deve ser mesmo uma leitura interessante, ainda que provavelmente deva ser feita sempre com muita cautela por tudo que a envolve.
    Beijos!

    ♥ Sâmmy ♥
    ♥ SammySacional.blogspot.com.br ♥
    ♥ DandoUmadeEscritora.blogspot.com.br ♥

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  2. Nossa, pela capa eu já achei sei lá, esquisito..más ao ler a resenha achei super interessante essa historia, um jovem sociopata deve ser deprimente entra em sua mente, eu nem sei se leria más quem sabe eu possa criar uma boa coragem pra isso!

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  3. Olá! Já tinha ouvido falar desse livro, mas não sabia exatamente do que se tratava. Pela sinopse pude perceber que é um livro bem denso, ao contrário de você não começaria a ler esperando uma narrativa frenética. É um livro para ser lido com calma, em um momento propício para esse tipo de leitura, que vai trazer muitas reflexões. Não é o que estou procurando no momento, mas talvez futuramente dê uma chance.
    Beijos!

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  4. Kris!
    Gosto demais de livros que trazem o lado psicológico das personagens e o porque de suas atitudes.
    Dá para notar que tudo advém da família totalmente desestruturada e que mesmo tendo algum sentimento em perceber que o que faz não é correto, ele sente prazer em fazer, verdadeiro socio/psicopata. Mente totalmente deturpada.
    Gostaria de ler.
    “Ouse saber!(Sapere aude)” (Immanuel Kant)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de MARÇO, livros + KIT DE PAPELARIA e 3 ganhadores, participem!

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  5. oi kris.
    Assim como você comecei a ler o livro mas parei.
    Logo nas primeiras páginas percebe o quão estranho o personagem realmente era, ele é realmente um sádico que não liga para suas ações e isso para mim é algo positivo, por que adoro livros que me tiram da minha zona de conforto, porém como você mesma falou a falta de diálogo me incomodou um pouco, mas nada que me faria desistir dessa leitura.
    Bjs.

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  6. Parece ser uma história bem perturbadora mesmo.
    Não sou chegada nesse gênero e por isso não me sinto animada para ler a obra em questão.
    Parece ser uma leitura bacana, porém acredito que seja uma boa pedida pra quem curte esse estilo de livro, não eu rs.
    Mas em suma, gostei de conhecer um pouco mais sobre a história!
    Beijos,
    Caroline Garcia

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  7. Olá!
    Sei bem como é quando nos preparamos para ler um livro e a narrativa não é como imaginamos, o ideal é fazer o que você fez, dar um tempinho para pegar o livro novamente, ao invés de tentar forçar a leitura.
    Não conhecia a obra, mas me interessei bastante, principalmente pelo aspecto psicológico. Acredito que deve nos fazer pensar bastante, além de parecer totalmente perturbadora, como você mesma disse.
    Mais uma para minha lista de desejados.
    Beijos.

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  8. Vi esse livro pelas redes sociais, mas não é muito meu estilo de leitura. Porém fiquei um pouco curiosa sobre essas questões da natureza psicopata do personagem, mas nem por isso teria coragem de ler. Evito luvros muito violentos. Deve ser um prato cheio para os psicólogos.
    Que interessante você compartilhar sua opinião sobre a questão do leitor muitas vezes criar expectativas erradas em relação ao enredo do livro e em um primeiro momento se decepcionar. Além disso sua estratégia foi ótima e pelo visto deu mega certo.

    Penso que o meio onde se vive pode sim influenciar o ser humano a ser cruel e malvado, mas a índole é o que o motiva e o testa todos os dias. Até pq existem muitos casos de pessoas que vivem em famílias estruturaras, em bairros e cidades com pouco índice de pobreza e violência mas acabam tornam-se pessoas crueis e violentas. E o oposto também acontece.

    Enfim foi ótimo saber um pouco mais dessa história que está tão próxima da nossa realidade atual, onde tanta gente prática a violência com uma crueldade e frieza sem sim.

    Leituras, vida e paixões!!!

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  9. Tenho a obra mas ainda não tive a oportunidade de ler.
    Comprei, admito, porque estava bem barato e não fazia ideia da premissa.
    Fui fútil, sei disso, mas pelo visto não vou me arrepender da compra porque segundo sua resenha, a obra é repleta de temas que eu gosto!
    To bem feliz agora e ansiosa para iniciar a leitura!!
    obrigado!! <3

    Ana Souza
    https://literakaos.wordpress.com/

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  10. Olá Kris tudo bem, eu fiquei bem curiosa a respeito do livro quando comentou que estava lendo ele. Por incrível que pareça estou na mesma situação que vc, quando uma leitura não flui. Mas vou seguir a sua experiencia e ler depois. Sobre o livro fiquei curiosa para conhecer essa narrativa. Bjkas

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