Resenha: Folclóricos - Gabrielle M. F. de Souza

04 abril 2018


Aprendemos na escola que a Iara é uma sereia, que o Saci não tem uma perna e que o Boto seduz as mulheres na noite de lua cheia e depois desaparece. Mas e se eles não fossem apenas histórias que escutamos quando pequenos? E se eles vivessem, respirassem e tivessem sonhos?
E se eles estivessem sendo caçados?
Acompanhe a história dos nossos principais personagens do folclore brasileiro numa batalha para se salvar... E salvar a Amazônia também.


Edição: 1
Editora: Amazon
ISBN: 1B0779K35FX
Ano: 2018
Páginas: 210
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Oi, gente. Vim trazer pra vocês hoje a minha opinião sobre Folclóricos, da Gabrielle M. F. de Souza. Ele é o quarto (quinto rs) livro da coletânea Nas Sombras da Cidade que saiu na Amazon no começo do ano (você pode ler as outras resenhas aqui) e conta a história de seres do nosso folclore, que decidiram sair da proteção da floresta amazônica e viver na cidade entre os humanos, tendo que lidar com o desaparecimento e ataque aos seus “irmãos” mitológicos.

A resenha pode conter spoilers, então se não gosta (ou não quer ler), pula pro finalzinho depois do asterisco (*) pra saber o que eu achei.

Apesar de falar e envolver vários outros folclóricos, a narrativa se concentra em três deles: Iara, Heitor (Boto) e Saci. Iara é atacada logo no começo do livro e assim eles descobrem o plano de exterminar todos os folclóricos para “limpar a existência" da floresta amazônica de forma mais rápida e prática, já que a cada ferimento grave (ou morte) em um folclórico, parte da floresta desaparece (como se nunca tivesse existido).

— Já falei que não foi minha culpa! E na hora também, eu nem mesmo pensei...
— O homem tem a cabeça na virilha, Iara... estamos falando do Boto! – comentou Saci, arrancando uma risadinha da moça.
— Ei! Olha quem tá falando, como se você fosse eunuco! Se tivesse conhecido Niara, com certeza teria feito a mesma coisa!
— Primeiro que eu não sou você, meu caro.
— Ahãm... e está todo cheio de atiramento pra Iara! Acha que eu sou cego ou o quê? – Imediatamente o outro enrubesceu e quase derrubou a tapioca que terminava de fazer.
— Deixe de besteira Boto. – Descartou Iara assim que se sentou e entregou-lhe a xícara de café.

Já que estamos falando dos três, preciso dizer que me incomodou o romance (quase triângulo) forçado que há entre eles. Iara passa o livro todo flertando/se agarrando com o Boto, pra no final DO NADA escolher o Saci. As guerrinhas de ciúmes entre os dois rapazes também é totalmente desnecessária e me incomodou muito. Eu, sinceramente, até agora não vi sentido em colocar o Boto se agarrando com a Iara. É certo que eles já foram amantes, mas não rola mais clima entre eles, e o cara dá em cima de qualquer rabo de saia (incluindo a filha dele).

— Parece que achamos nossa arma do crime – concluiu o boto, com sua voz mais grossa e categórica. Para logo depois dar uma risada. — Sempre quis dizer isso, depois de ver tanto programa policial.

E agora que eu falei sobre a filha, outra coisa que me incomodou muito foi a mudança brusca do Boto de “homem pegador e safado” pra “pai de família coruja e respeitador” que aconteceu no final do livro. Ele também tem uns pensamentos irritantes e gosta de fazer piadinha fora de hora e que não condizem com a idade do personagem (que por mais desnecessárias que sejam, alegrou um pouco a leitura do meio pro final, quando eu já estava pegando ranço de tudo e de todos e ficando puta).

Seus olhos viram um dos maiores medos da folclórica: troncos e madeira chiavam alto à medida que eram engolfadas em chamas, os animais gritavam e as aves voavam em debandada do local. Um pouco mais afastado dali ela via monstros de metal e garras avançando, derrubando árvores milenares, que não tinham como resistir à força do metal.
Os malditos tratores eram presenças constantes na Amazônia, sempre invadindo e destruindo tudo a sua frente. Se não eram esses, homens com serras vinham ou então o próprio fogo, que liberavam na orla da mata e que se espalhava como vento.

Uma coisa extremamente positiva desse livro são as críticas à sociedade e a política do progresso a custo da natureza. O abandono do governo em relação aos índios, o desmatamento, as queimadas ilegais, e até mesmo a sociedade machista (no extra da Caipora, que eu amei demais). Outra parte que ganhou muitos pontinhos comigo foi a Niara, a cacique das Icamiabas. Ela é o meu tipo de personagem: chuta bunda primeiro, pergunta depois, e no final mata todo mundo. Uma pena que a forma como as Icamiabas foram descritas (como Amazonas) ficou parecendo uma fanfic de Mulher Maravilha. Queria saber mais sobre a história delas e como elas descobriram o dono do canivete e todas as outras informações, sendo que nenhuma delas tem contato com tecnologia (até onde sabemos).

Já na trama (treta rs) principal, infelizmente a coisa não foi muito bem. Os “vilões” prometiam muito no começo e me deixaram super empolgada, mas o final deixa muito a desejar e tudo se encerra de forma abrupta, inesperada (pra quem não conhece a lenda) e sem explicar tudo direito. Não sabemos se eles conseguiram recuperar algum dos folclóricos que estavam presos, se não tinha mais gente do governo envolvida, o que aconteceu com o armazém onde ocorreu a batalha, como é que esconderam os acontecimentos dos olhos da mídia, etc. Foram muitos pontos que poderiam ter sido trabalhos, no lugar do romance entre os personagens.

*

Resumindo, se você não é muito chato com suas leituras, vai achar o livro bem “okay”. Não tem grandes acontecimentos, dá pra dar umas risadas e é legalzinho pra passar o tempo. Mas, se assim como eu, você não consegue relevar pequenos deslizes de narrativa, erros de gramática, falta de revisão e personagens/diálogos bobos, você pode se decepcionar com o livro. O extra da Caipora, sozinho, é muito divertido e eu amei de verdade, mas o livro deixou muito a desejar.

Isso é tudo, pessoal.
Beijos e até a próxima!

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