Resenha: Arroz, feijão, crimes e farofa/Ou O Banquete das hienas - Bia Onofre

09 abril 2018


Sexo, desejo, morte, vingança, ciúme, amor. Os contos, nanocontos e o romance escritos por Bia Onofre navegam por temas universais que vêm pautando a literatura de autores clássicos como Shakespeare, Victor Hugo ou García Márquez há séculos. No entanto, com uma palavra afiada e sem medo de cortar na pele de quem lê, a bússola da pena de Bia Onofre aponta para um autor bem mais próximo (no tempo e no espaço) dos brasileiros: Rubem Fonseca.
Ao ler a obra, o leitor será convidado a sentar-se à mesa e degustar um cardápio de personagens comuns e insuspeitos, que carregam toda a complexidade da alma humana, mas que, justamente por isso, não deixam de provocar um gosto indefinível emcada história mastigada, que deixará seus olhos de boca aberta.
Arregace as mangas e... bom apetite!


ISBN: 978855161402
Edição: 1ª 
Ano: 2017
Editora: Giostri


Olár, crianças, eu não morri.
Vou poupá-los dos detalhes do meu hiato, e dizer apenas que esse retorno foi em grande estilo.
Já havia sido apresentada à escrita de Bia com o sensível, mas nem por isso menos angustiante, Restos de Nós. Ali, Bia já mostrava não ter medo algum em causar desconforto e deixar uma marca indelével que nos faz pensar por dias no que foi lido, até que a absorção daquele conteúdo seja completa.
Com "Arroz, feijão, crimes e farofa", entretanto, o impacto é mais brutal.
Não é apenas um desconforto no pé do estômago, mas um chute no meio dele.

De mil formas de assassinatos frios a canibalismo, gente sendo usada como objetos de troca, estão ali, o mais podre de nossa desumanidade, pintado com tintas carregadas, mas que não deixam a pintura menos realista.
É aquilo. Somos nós. A humanidade está ali retratada. Uma grande falha de caráter, uma grande bolha de tinta vermelho-sangue, uma nódoa, qualquer coisa de feio e desagradável que esteja na pintura desse mundo.

“Matar é fácil. Difícil é se livrar do corpo.”

Não é uma leitura difícil, por assim dizer.
As histórias fluem rápido e são curtas, e o livro também está recheado de nanocontos, que acabam em apenas uma frase. Mas, haja estômago pra esse banquete tão bem preparado pela Bia, que consegue imprimir um ritmo tão leve a histórias tão pesadas.
Cada conto tem uma forma única de narrativa, que acompanha de maneira fluída as características do personagem principal. Por vezes em primeira pessoa, em outros momentos em terceira pessoa, cada texto é como que um indivíduo diferente, mesmo os pequenos contos formados por uma ou duas linhas.
Um dos contos presentes no livro e intitulado "A Filha da Puta" foi premiado no Concurso Nacional de Contos "Newton Sampaio" um conto pungente sobre a realidade de uma jovem cuja mãe troca seu corpo pelo que necessita.

A Escrita da Bia Onofre é super limpa e a obra não possui nenhum erro de revisão. O trabalho gráfico do livro também está impecável, a diagramação é agradável e nos possibilita que a leitura seja prática e não cansativa. A Capa do livro é simples e de bom gosto, utilizando uma organização tipográfica simples, mas que ao mesmo tempo consegue atrair e passar ao leitor o conceito do livro.

Eu não sei se amo ou odeio Bia Onofre. Acho que amo, mas quero dar uns socos nela, porque o que ela faz com a gente é muita maldade. 
Prepare-se pra uma bela ressaca literária após consumir essa trivial refeição de arroz feijão e muito sangue, temperados com o talento de Bia Onofre. Ou seja, essa é uma obra super recomendada, espero que vocês tenham o prazer de ler e gostem tanto quanto eu.
Beijos.


Sobre a Autora



Bia Onofre nasceu na capital paulista em 1967. Professora de inglês desde 1985, Estudou em Nova Iorque onde ensinou imigrantes e refugiados de diversas nacionalidades, uma experiência que iria mudar sua vida para sempre. Redescobriu a literatura brasileira quando se mudou para o Rio de Janeiro em 2001 e encantou-se com a prosa brasileira contemporânea. Entre suas várias criações literárias, podemos citar "Restos de Nós", romance histórico que explora o universo feminino, vencedor do Concurso de Bolsas para Autores com Obra em Fase de Conclusão da Fundação Biblioteca Nacional, e também "A filha da puta", conto urbanista e brutal, premiado no Concurso Nacional de Contos "Newton Sampaio".



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