Resenha: Doce Toque - Letícia Marques (Asas da Morte #1)

14 abril 2018


Essa é a história de um anjo. Mas não um simples anjo. Alyssa é um anjo da morte. E durante uma de suas missões, ela se vê incapaz de tirar a vida de um homem desconhecido. Apesar das ordens para que ela conclua sua tarefa, Alyssa contraria todos quando parte em uma jornada proibida, fazendo tudo que está em seu alcance para manter o humano a salvo.





Edição: 1
Editora: Amazon
ISBN: B01LYL7ROE
Ano: 2016
Páginas: 282
Compre na Amazon: Doce Toque


Oi, gente. Dessa vez demorei muito pra voltar, mas trago pra vocês mais uma resenha de um livro da coletânea Nas Sombras da Cidade, lançada na Amazon em janeiro. Postei outras resenhas desse box por aqui, então vocês podem ver o que achei dos livros anteriores dando uma busca pelo blog.



Doce Toque, da Letícia Marques, é o quinto (sexto rs) livro da coletânea e nos apresenta a história do relacionamento entre um Anjo da Morte, Alyssa, e um humano, Kevin, e o quanto a mulher se deu mal com isso. Sim, eu resumi o livro todo em uma linha. Pode parecer um absurdo e vocês provavelmente estão me xingando agora, mas o livro realmente é apenas isso: dois quilômetros de linguiça temperada com macho-embuste-abusivo, e acompanhada de uma sobremesa decepcionante e previsível.

Senta que lá vem análise, quindim.

Os parágrafos a seguir podem (e irão) conter alguns spoilers, então se não quiser saber detalhes do conteúdo do livro, pula pro trecho após o asterisco (*) no final da resenha, que lá a minha opinião é spoiler-free.

No começo do livro somos introduzidos ao mundo mágico dos Anjos da Morte, narrado do ponto de vista da Alyssa, um anjo nível 5, responsável por tirar vidas que servem a algum propósito maior. Mas essa classificação é só uma fachada. Não representa realmente a força ou os poderes do anjo em questão, não representa nem sequer a experiência, é apenas um nome dado ao trabalho que eles fazem no momento. Alyssa, na verdade, se encaixa no conceito de “floquinho especial” dos seres sobrenaturais: ao longo do livro ela desenvolve poderes desconhecidos justamente nos momentos em que mais precisa deles, tira forças surpreendentes do além sempre que está em perigo, e vive naquele mundinho de “eu sou superior à tudo e à todos”. Nada é impossível ou passível de punição para a protagonista. Ela quebra um milhão de regras dos anjos da morte e não sofre as consequências de seus atos (a única punição que ela “recebeu” foi ser rebaixada para o nível 3, e ainda assim obteve seu cargo de volta no final do livro), enquanto os figurantes são punidos severamente pelas coisas mais bestas. Por falar nisso, o sentimento de impunidade atinge não apenas a protagonista, como também um dos “vilões”, o Seider (um dos Superiores da Alyssa, que é um baita de um invejoso e decide "matar" ela ao longo do livro).

Já sentia seu coração diminuindo os batimentos quando ele me olhou nos olhos com os seus verdes e curiosos. Por um momento perdi a concentração ao mergulhar naquele olhar profundo. Seu olhar transmitia tanta ternura e amor que me deixou paralisada. Me senti embriagada e tonta, e meus joelhos fracos como se fossem ceder sob o meu peso. No mesmo instante uma corrente elétrica percorreu todo meu corpo, partindo da mão que ainda segurava a dele. Ficamos ali parados nos olhando por não sei quanto tempo – que para mim pareceram horas, mas que não deveria ter sido mais que alguns segundos

Perto do Natal (é sempre perto do Natal, nesse livro), Alyssa recebe a missão de matar um humano chamado Kevin, mas ao tocar no rapaz, ela não consegue lhe tirar a vida. Você, assim como eu pensei na hora, deve estar imaginando que o humano deve ser alguém especial, alguém que foi bloqueado por magia, ou qualquer outra coisa incrível que poderia estar impedindo a Alyssa de matá-lo. Sinto decepcioná-lo, mas a resposta para esse enigma é o amor verdadeiro. Sim, um amor instantâneo que a Alyssa começou a sentir no segundo que Kevin olhou para ela. E é em nome desse amor que ela vai contra todas as regras estabelecidas pelos seus Superiores: ela não segue em frente com a missão, impede todos os outros anjos de matar o humano, ataca outros anjos da morte, se expõem para a humanidade, usa seus poderes sem permissão contra outro humano (mesmo que a pessoa em questão seja o seu cunhado drogado, não tem desculpa), “socializa” com feiticeiros e se mete na luta deles contra os demônios, etc.

Seu corpo começou a se desintegrar em meio a uma confusão de chamas que pareciam não queimar, mas apenas para logo a seguir voltar a crescer, dessa vez multiplicado. Quatro demônios estavam parados à minha frente agora, todos idênticos em aparência e perigo.
(...)
De qualquer forma, eu sabia que não poderia ficar parada vendo aqueles demônios atacarem, quando poderia resolver tudo facilmente. Com apenas um movimento de mão, um segundo depois os três demônios caíam mortos no chão, viraram pó e desapareceram.

Se você está se perguntando qual a necessidade de inserir tantos seres sobrenaturais e tramas paralelas sem maiores explicações ou detalhes, então somos dois. A autora simplesmente acrescenta elementos fantásticos sem dar uma base e/ou desenvolvimento para eles, como as bruxas e os demônios, que são apenas citados e/ou tem cenas completamente desnecessárias para a história principal desse livro. Eu entendo que por ser o primeiro livro da série a autora sentiu vontade de apresentar tudo de uma vez, mas as coisas não funcionaram bem dessa forma, passando uma sensação de desleixo com o conteúdo entregue ao leitor. Além disso, o livro contém vários clichês típicos de fanfics, como penteados frouxos, comidas com nomes estrangeiros a todo momento (bem masterchef), trechos com descrições detalhadas de todas as roupas que a protagonista usa, e uma mulher que não se acha bonita, mas é linda (e mal educada, rebelde sem causa e grossa com a maioria dos personagens secundários, vale ressaltar).

Por não ter reconhecido meu nome, ela só poderia ser novata. Mas ainda assim perdi um pouco a paciência. Respirei fundo, porque ser paciente não era meu maior dom.
— Como é seu nome? — perguntei respirando fundo.
— Mariza.
— Você é novata aí, acertei?
— Sim, senhorita. Comecei aqui há duas semanas.
Ah, claro. Fazia mais de um mês que eu não aparecia ali, então resolvi esclarecer logo a situação.
— Certo, Mariza. Vou explicar uma coisa: sempre que eu ligar, você deve chamar seu chefe, independente do que ele esteja fazendo. E, acredite, ele não vai gostar nem um pouco se descobrir que liguei e você não o avisou. Então faça o favor de ir até a cozinha e avisá-lo que estou ao telefone.

E, já que estou falando de conteúdo, precisamos falar sobre Kevin (eu quis dizer isso desde a primeira linha dessa resenha rs). Esse cara praticamente zerou o checklist de macho abusivo que se faz de bonzinho já nos primeiros capítulos. Ele usa de manipulação e “chantagem” emocional para sempre conseguir o que quer da Alyssa. O relacionamento deles é completamente nojento: ela faz dele o centro do seu universo e seu único objetivo de vida é mantê-lo vivo e feliz (ela literalmente diz isso no livro); e ele se aproveita disso para tentar transformar ela em algo que ela não é (humana), para que ela se encaixe nos moldes de “mulher perfeita” que ele tem. Ele não gosta que ela use seus poderes, nem de se teletransportar com ela, nem que ela não durma ou coma (anjos da morte não tem necessidade de comida ou sono, uma vez já que estão mortinhos da silva), nem do fato dela morar sozinha em Londres, sente ciúmes dos amigos dela, entre muitas outras coisas.

E aqui está você, um Anjo da Morte, que deveria ser totalmente desprovida de qualquer emoção, chorando por um humano que conhece há algumas horas. Há dias curtos e turbulentos. Mesmo estando nesse mundo há apenas alguns anos, foi capaz de encontrar o amor dentro de você. Amor, Alyssa. É isso que eu estou vendo emanando da sua alma — ele explicou ao se dar conta de que eu não estava entendendo-o. — Não um capricho que te fez poupar a vida desse humano. Amor, na sua forma mais legítima e poderosa.

Outra coisa que me incomodou muito no relacionamento deles foi o fato de precisar que uma pessoa externa (o Superior e mentor da Alyssa, Troni) diga a eles o que é que eles estão sentindo. O cara chega e diz algo tipo “vocês se amam de verdade” pra só então eles notarem que é amor o que existe entre eles. Eu fico imaginando se o casal teria os mesmos problemas se o Troni não tivesse influenciado eles (principalmente a Alyssa). E já que toquei nesse ponto, o final do livro em relação ao casal foi um misto de decepção e alegria: eles não ficam juntos. Fiquei extremamente decepcionada porque vim me arrastando na leitura o livro inteiro pra terminar dessa forma, depois que eu aguentei toda a melosidade, os draminhas, as conversas sem noção e os abusos por toda parte… Tudo em vão. E alegria porque a Alyssa finalmente abriu os olhos e viu que o relacionamento deles não era saudável, que ele não a amava de verdade e decide se afastar pra sempre, embora se enfie no fundo do poço pós-término de forma totalmente deprimente por causa disso.

— Não é assim tão simples, Allie. Vocês não estão mais juntos, eu sei, mas não foi algo que você quisesse que acontecesse. Um rompimento assim, quando tanto amor estava envolvido, deixa marcas. Marcas profundas e que trazem consequências. — Apenas ao ouvir aquilo, voltei a encarar Troni, alarmada com o tom de sua voz. — Você está com o coração partido, Allie. E isso é algo muito mais forte do que o amor em si. Anjos não podem sofrer por amor. Alguns Anjos não podem sequer amar. E você, Alyssa, conseguiu sentir os dois, da forma mais intensa possível.
De alguma forma eu sabia que aquilo que ele falava não era algo que eu deveria me orgulhar. O medo me dominou de tal forma que fez meu coração disparar em meu peito e por um instante esqueci de respirar, apavorada com o significado daquelas palavras.

E é assim que o livro abre caminho para o restante da série. Depois de uma confusão gigantesca envolvendo vários seres sobrenaturais, de sub-tramas mal explicadas e outras totalmente esquecidas pela autora (como o desaparecimento de alguns anjos), é dito que a Alyssa vira humana devido ao fato de ter tido seu coração partido pela rejeição do Kevin. Ela ainda se teletransporta e ainda realiza as missões de anjo da morte, mas eles chamam de "humana", então a gente aceita, né?! Após ela passar o livro todinho dizendo que isso era impossível, acontece, o que só confirma mais uma vez o lance do “floquinho especial”.


*


Doce Toque é uma leitura lenta e exaustiva. Você precisa ter muita paciência pra aguentar o relacionamento do casal principal e todos os seus momentos melosinhos, o que constitui praticamente 70% do livro. Os elementos fantásticos não são bem explicados e quando a autora se propõe a expor detalhes, eles são entregues em forma de “pergunta e resposta”, o que me cansou bastante a leitura. Kevin e Alyssa me tiraram dos nervos em mais da metade das cenas, e na outra parte quem me irritava era algum secundário. Se o Kevin não fosse tão embuste, a Alyssa tão bobinha, e o livro tivesse mais foco no problema dos anjos desaparecidos (ou qualquer outro relacionado ao mundo mágico em si) do que nas briguinhas desnecessárias entre os personagens, eu acho que acrescentaria mais duas estrelas na 1,5 que eu dei pra essa leitura. Infelizmente, não foi dessa vez.


Isso é tudo, pessoal.
Beijos e até a próxima!

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