Resenha: Melodia do Mal, de John Ajvuide Lindqvist

18 março 2015

Edição: 
Editora: Tordesilhas
ISBN: 9788584190027
Ano: 2014
Páginas: 488
Sinopse: O produtor musical Lennart Cederström, outrora componente de uma dupla de certo sucesso, juntamente com a mulher, Laila — ambos de meia-idade e vivendo quase no ostracismo – encontra num bosque, envolta em plástico, semienterrada e quase morta, uma diminuta recém-nascida.Entre as décadas de 1970 e 1990, Lennart vira sua paixão pela música e o autoconferido talento deturparem-se, entregues à crescente indústria cultural, ao oportunismo de empresários e ao artificialismo das relações entre o público e seus ídolos. Agora, cansado e desprovido de sonhos, vê na menina a perspectiva de preservação da música em sua mais pura essência e um resgate da própria existência. Afastado da mulher e do filho, a quem despreza, faz da menina praticamente um projeto musical, instruindo-a e cercando-a da melhor música. A criança responde com surpreendente e quase milagroso talento, dotada de uma belíssima voz. Ao mesmo tempo, demonstra um peculiar interesse em “desconstruir” objetos, conceitos – e, como se vê depois, pessoas. A esposa, Laila, ex-cantora, e agora uma obscura e abusada dona de casa, acaba aderindo ao projeto, incapaz de resistir ao fascínio emanado por aquele ser de beleza paradoxal. Assim, “Pequenina” ou “Estrelinha”, como a chama o casal (“Theres” para o filho deles, Jerry), é criada em segredo num porão, silenciosa e musical como nenhuma outra criança. À medida que cresce “longe dos males da sociedade”, ilumina e transforma a vida dos pais postiços... até revelar uma essência perturbadora e sanguinolenta.

Olá crianças!!! A tia recebeu alguns livros da Lilian Farias, do Blog Poesia na Alma. Segue a resenha de um deles pra vocês. Tirem as crianças e os medrosos da sala, porque esse terror é TENSO.
Enjoy!

Minhas opiniões sobre o livro

Melodia do mal é um soco no estômago. E ele doerá por horas, dias, talvez até semanas.
Nada neste livro indica o que está por vir. A princípio, pensei que a capa fosse maravilhosa, mas ao terminar o livro, percebi o quanto ela parecia bobinha. Melhor seria de pudessem registrar o frio azul dos olhos de Theres, ou o porão onde viveu. A sinopse também me capturou quando o livro chegou em casa, mas ao relê-la, me pareceu vaga e desconexa em comparação com a força do livro.
Os únicos verdadeiros sinais que temos do que virá são as elogiosas citações das críticas da MTV.com, e dos jornais Independent e New York Post. Mesmo assim, ainda parece muito pouco.
Por mais que eu fale, ou avise, nada vai poder prepará-lo para a (deliciosa) sensação de mal-estar e desconforto que este livro é capaz de fazer chegar às suas entranhas.
Curiosamente, não há nada de surpreendente na história. À medida que o enredo avança tudo flui de forma muito natural, e fica tão espantosamente claro que você já pode perceber tudo o que está para acontecer.
Todo o horror deste livro é tão iminente, e certo, e praticamente auto- proclamado, que você passa a considerar cada ato condenável como o curso natural das coisas, e um pouco da frieza dos personagens parece habitar por um instante suas veias.
Tudo neste livro é meticulosamente criado para gerar uma sensação de desconforto, até mesmo o fato de a história estar ambientada na Suécia. Estamos acostumados com histórias em Londres, nos EUA, em Roma ou em algum outro cenário que seja levemente mais familiar. Mas a Suécia me pareceu extremamente insólita, no contexto do livro. Os lugares, artistas e músicas, as citações, será que são reais? Não é possível nenhuma conexão, e isso acaba se tornando mais um dos pontos positivos do livro: Flutuar pelo cenário como uma mosca, sem a capacidade de criar um elo, frio como seus personagens. A única coisa vagamente familiar é o grupo sueco Abba, e o recorrente uso de sua música “Thank you for the music”, que toma formas assustadoras dentro da história.
De certa forma, isto é libertador, uma vez que você não vai querer formar um elo com nenhum de seus personagens.
Não com o fraco e problemático Jerry, ou com seus infelizes pais, os músicos em decadência Lennart e Laila. Ligar- se à hermética Theres é tarefa Hercúlea, pra não dizer impossível.
Em certa altura, você vai achar que pode se identificar com a depressiva Teresa, mas logo essa ideia é também tirada de você. O desprezível produtor Max Hansen também não te ajudará, e numa tentativa desesperada, você tentará se apegar a uma das Meninas Mortas, até descobrir que pouco sabe sobre elas, e o livro está no fim.
Desista: Você passará o livro todo sozinho e com medo, sobressaltado e enojado, e com certo ímpeto de largar aquela leitura ultrajante e poder raciocinar novamente. Será tarde demais. John Ajvide Lindqvist escreve de tal forma que, em poucos minutos, já fomos capturados. O torpor que todos os personagens sentem ao conhecer Theres toma parte também de nós, e PRECISAMOS dela, assim como todos os outros.
John apresenta a história em partes: A menina de cabelos Dourados; A Outra Menina, As duas Meninas, Todas as Meninas e As Meninas mortas. Não é uma narrativa cronológica, existem flashbacks, sobreposições temporais, mas ao mesmo tempo tudo caminha de uma forma absurdamente linear, em fluxo contínuo. Não há noção de pausa, mesmo na troca de personagens. Tudo flui num tenebroso crescendo pra tragédia anunciada desde a primeira linha.
O final, descrito como apocalíptico na contracapa do livro, nada mais é do que o fluxo natural das coisas, o fim terrível de uma história terrível, desde o princípio.
A forma como nenhum dos personagens parece ser completamente são, no que tange ao aspecto psíquico é perturbadora. Todos eles, em diferentes níveis, são pessoas gravemente feridas mentalmente, e é extremamente incomoda a forma como nenhum deles é capaz de perceber o rumo obviamente ruim que as coisas estão tomando.
Nem os “pais” de Theres, o autocentrado Lennart, nem a autopiedosa Laila, nem o “irmão” dela, preocupado demais com seus pequenos problemas e tão afundado em autopiedade quanto a mãe, nem os inexpressivos pais de Teresa, Maria e Göran, nem Johannes, seu amigo de infância,preocupado demais com seu relacionamento juvenil com Agnes. Simplesmente não há ninguém que enxergue o óbvio rumo catastrófico das coisas e o impeça. Parafraseando o que Jerry diz no livro, não é como se uma bola estivesse rolando montanha abaixo e pudesse ser parada por um deles, eles simplesmente estão todos dentro da bola, rolando ladeira abaixo junto dela. E a tensão que toma conta do leitor é a mesma de quem está dentro da bola: Ela já não pode ser parada, você rola junto dela.
Chegar ao fim desta tensa história é uma experiência extremamente gratificante. Sair da posição de observador impotente é um êxtase. Mas acredite. Você ainda sentirá o ranço deste livro na sua boca por um tempo. A tensão, a frieza e a crueldade deste livro não saem facilmente da mente, e a obra do “Stephen King” sueco vai ecoar por muito tempo em seus pensamentos. Deliciosamente aterrorizante, como deveria ser todo livro que tem a audácia de ser chamado de terror.

11 comentários:

  1. Olha, eu até gosto de histórias de terror, mas só em filmes mesmo. Para livro, não é meu forte. Até porque... Filme eu nunca to sozinha hahaha, medrosa SIIIIM! E a capa do livro nem parece lá aquelas coisas comparado ao que você escreveu! Não tá TÃO terrível assim. Haha.
    Beijos

    www.prettythings.com.br

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    1. Huahauhauhauha, Mari, é verdade. Ler é complicado, pq vc fica sentindo tudo sozinha. Mas a obra é incrível, se você começar, não há medo que te faça parar.

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  2. Eu já li a resenha no Poesia na Alma, e admito que fiquei com medo rsrs,
    estou louca para ler esse livro, e morrendo de medo ao mesmo tempo.
    oooo contradição viu rsrs.
    beijos

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    1. Josi, deixe a vontade de ler vencer o medo, que você sai ganhando. Rsrsrsrrsrs

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  3. Oi Amanda! Amora, leio de tudo, menso terror, sou capaz de encarar até uma biografia e auto ajuda, olha o tamanho do desespero da pessoa em pensar em ler terror. Dizer que não fiquei curiosa, e mentira, porque fiquei; mas o medo habita esse ser de tal modo, que travo, não leio e não vejo nada de terror. Achei a capa muito sugestiva, mas passo a dica. Parabéns pela resenha, ficou muito instigante. bjs
    Eykler
    www.amorascompimenta.com

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    1. Huahuahauhauha. Eykler, o legal desse livro é que o monstro é o que habita nas pessoas, e que esta sociedade egocêntrica está criando. O que mais dá medo é que poderia estar acontecendo agora mesmo na rua da nossa casa, e ninguém ia notar.

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  4. como eu havia dito antes, esse livro já tá na minha listinha. Fiquei MUITO empolgada pra ler... e essa capa é daora..

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    1. Leialeialeialeia.É tudo que posso te dizer, Val. Rsrsrrsrs

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  5. Sua linda, a resenha ficou fabulosa. Vc foi visceral, a sensação é que estava tendo um filho...

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    1. Ai, obrigada. Mas não tinha como não ser visceral com o livro que me mandou. Ele é completamente cru e nos exige isso. Beijos.

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  6. Não sei porque o comentário anterior foi deletado. Mas enfim, agora que terminei a leitura, voltei para passar minhas impressões. John merce todos os elogios, o livro é impecável. Também o resenhei em meu blog. Pretendo ler outras obras do autor, com certeza.

    http://porquelivronuncaenguica.blogspot.com.br/

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