Acaso por Acaso

20 março 2014


  E mais uma vez lá estava ela, cabeça e pernas abertas a mais uma alucinante aventura a que ele lhe propunha. E isso era o que mais chamava atenção nela, não que ela precisasse de mais alguma coisa que chamasse atenção, a união do corpo de musa renascentista, alvo e cheio de voluptuosas curvas à um rosto angelical com olhos de um azul que as vezes eram brilhantes, como um diamante exposto a luz do dia e outras vezes eram profundos como o mar após uma tempestade. Sempre que Arthur tentava compara-la à algo, a primeira coisa que lhe vinha a mente era a imagem de um anjo caído, não sabia muito sobre ela, só o que ela queria que ele soubesse e no inicio isso não o incomodou. Porém da última vez que a encontrou sentiu um sofreguidão machucar lhe o peito por não saber o que aconteceria a sua musa a seguir.

   A primeira vez que se encontraram para ele foi totalmente por acaso, havia brigado com os pais, por algum motivo torpe que no momento nem lhe vinha a memória e então saiu sem rumo. Fumou alguns baseados aqui, cheirou algumas carreiras ali, entornou alguns goles acolá, mas pelo menos foi sensato de deixar as chaves do carro com um amigo próximo e sair curtindo a solidão da noite pela cidade. Era tudo estonteante, ou pelo menos, parecia sob o efeito dos entorpecentes que havia ingerido. Lembrava que em algum momento da noite lembrou da sua Ex, de quem havia separado a alguns dias, após pega-la de quatro no banco de trás de um carro que não era o seu, sendo fodida por um pau que também não era.


    –Vadia! – Pensou. – Mas bem que cairia bem, uma trepada agora. E quando olhou mais a frente e viu um anjo caminhando pela noite. De fato os cabelos lembravam as imagens das menininhas querubins que enfeitavam os calendários, mas anjos nunca se vestiriam daquele jeito. – Não, mesmo, nem nos meus sonhos mais sacanas. – Pensou.

   Ela caminhou em sua direção, com um sorriso malicioso estampado no rosto e parou diante dele. Seus seios quase saltavam fora do espartilho, fazendo com que ele não conseguisse evitar o olhar.

  – Dane-se. – Pensou – Estou muito bêbado para me negar o prazer de uma tão bela visão. Então encarnou por completo o cafajeste que havia em si e esquadrou a mulher que estava parada a sua frente. O vestido não era curto mas havia grande fenda na perna, deu pra ver que ela usava uma meia que subia até as suas coxas onde eram presas por ligas que iam da renda até onde a imaginação o poderia levar. – Devo estar alucinando. – Pensou. – O tesão reprimido, juntou-se ao pó e me fez fantasiar a mulher dos meus sonhos. - Ouviu então um riso, marcante sensual, emanando de uma boca carnuda pintada de carmim bem diante dos seus olhos. Havia pensado alto e isso era claro, sentiu vergonha imediatamente.

   –Não posso negar que fico envaidecida de saber que sou a mulher dos seus sonhos. – Falou numa voz melódica e excitante.

   – Mil perdões pela indelicadeza, estou drogado demais pra saber o que eu estou falando.

   – Por que as desculpas após um elogio? – Falou sorrindo. – Quem dera se nos dias normais todos tivessem o benefício dos entorpecentes para falar aquilo o que pensam. – Levou então a mão até o decote e sacou de entre os seios um cigarro barato com filtro vermelho. – Você pode acender? – Perguntou.

Artur então tirou do bolso de trás da calça o isqueiro caro que a mãe havia lhe dado de presente. A ironia residia em ela sempre reclamar quando o via fumando e dar-lhe um isqueiro de presente. “Esse isqueiro, vai sempre deixar bem claro que você não é qualquer um.” Ela dizia. E era verdade, já havia perdido as contas de quantas gracinhas já havia ouvido dos amigos pelos bares a fora. “Seu isqueiro, vale um ano do meu salário.” “Com esse isqueiro, eu quitaria o meu carro.”. Era até um milagre que ele ainda não tivesse perdido ou houvessem roubado aquele isqueiro, o elefante branco de ouro maciço, como Arthur o chamava. Mas aquela moça parada a sua frente nem o notou, ela apenas deslizou a ponta do cigarro pela chama e virou-se em direção à rua.

   – Você parece estar mal. Caminhar ajuda, quer companhia? – Ela disse sorrindo. Naquela hora o fluxo de carro que seguia pelas ruas do Recife Antigo era pouco, havia sempre o risco de serem assaltados, mas até os assaltantes dormem as três da manhã. Ela lhe estendeu a mão e ele a segurou e seguiram caminhando pelas ruas do Recife antigo. Dois desconhecidos de mãos dadas pela noite. Seguiram pela Alfredo Lisboa e pararam no marco zero, onde sentaram virados para o rio. Ela então começou a declamar em tom de poetisa:

   – Não me canso de admirar o quanto é grande “A pica de Brennand”. – E estourou em um riso espontâneo.

Arthur não conteve o riso.

   – Que piada infame. – Completou, ainda rindo.

   – Ah, meu querido, não és o único que pode usar o argumento de estar bêbado. Se você soubesse o que eu passei essa noite riria mais da minha piada.

   – E o que você passou essa noite? – Ele indagou.

   – Não importa! Não vamos falar de problemas, já que somos dois desconhecidos bêbados, sentados as margens do Capibaribe vamos falar de algo mais interessante. A sua é tão grande quanto a de Brennand?

Dessa vez foi ele quem gargalhou.

   – Pensei que dois desconhecidos bêbados conversando de frente ao Capibaribe numa madrugada fria, falariam de algum assunto filosófico.

   – E existe algo mais filosófico do que sexo? – Rebateu em tom de mofa. – E melhor ainda que falar, não é fazer?

   Ele mal pode notar quando ela encostou os lábios nos dele e invadiu a sua boca com a língua. Sua mente lhe dizia a cada minuto que passava que aquilo era uma alucinação, mas essa ideia caiu por terra no momento que os dedos rápidos dela abriram os botões da calça dele e seu lábios avidamente lhe sugaram o sexo, como se pudessem por ali lhe sugar a essência vital. Estendeu sua mão sob o vestido roçando a meia e pôde sentir a umidade lhe molhar os dedos ela estava sem calcinha. Trocaram essas caricias por um longo tempo numa masturbação mútua, quando de repente ela levantou.

   – Eu te dei, agora quero receber. – Disse com voz rouca.

   – O que? – Arthur perguntou.

   – Oral. Quero que você me chupe. – Disse enquanto se encostava em um pilar as suas costas e levantava o vestido, revelando o mistério de onde as ligas eram presas.

   Não usava calcinha apenas um cinto de renda envolta da cintura. Artur se abaixou em frente as suas pernas e a chupou avidamente, ao som de gemidos escandalosos e quando sentiu que ela tencionava as pernas e os gemidos se aprofundavam virou-a de costas,colocou rapidamente a camisinha e a penetrou, ali de pé, intensificando assim o seu sofrimento. Toda essa situação era algo que nunca havia acontecido, mas tudo ali só aumentava o tesão.A tensão de estarem sendo observados por algum expectador a distância, a desconhecida sexy de rosto angelical e corpo de demônio que gemia como uma gata em cada estocada, o brilho longínquo de uma lua cheia que se despedia, dando sua vez ao sol.  Então quando ele sentiu o sexo dela se contrair em torno do seu pênis e os gemidos dela se tornarem sons guturais, aumentou o ritmo das penetrações e sentiu o prazer vir, e vir até que explodiu dentro daquele corpo quente e sensual exatamente no momento que ela chegou ao orgasmo também.

   Ela virou-se e beijou-lhe mais uma vez, estendeu-lhe a mão e disse:

   – Prazer. – Amélia, mas pode me chamar de Amelie. Odeio Amélia.

   – Arthur. – Ele sorriu.

   – Então seria melhor ter me apresentado, Guinevere. – Ela falou entre sorrisos. – Tem um cigarro pra me dar?

   Artur vasculhou os bolsos em busca dos cigarros e os encontrou amassados em um canto. Estendeu o maço para ela de onde ela tirou um e em seguida lhe entregou o isqueiro. O dia já amanhecia.

   – Então, Arthur é aqui que diremos até logo, preciso ir, meu ônibus já, já chega.

   – Que companhia, enquanto espera?

   – Lógico, que não. Não quero apagar a magia dessa noite, com você sentado ao meu lado, enquanto eu espero o ônibus sentada numa parada suja e depois me vê sair espremida entre os coitados que vão trabalhar em pleno sábado de manhã. Nos separamos aqui!

   Ele, riu. Era incrível, como aquela garota tinha o dom de fazê-lo sorrir.

   – Como queiras. – Ele respondeu. – Me dá seu número, eu te ligo e a gente marca de se encontrar.

   – Eu não vou te dar o meu número. Se eu der, vai ser apenas mais um número jogado na sua carteira e depois num cesto qualquer e eu vou ser só a lembrança de uma fodinha louca, numa sexta-feira bêbada as margens do Capibaribe. É uma boa lembrança, mas não é a que eu quero. Deixemos como está e assim como hoje o destino, tratará de nos reencontrar. Assim como hoje, que eu saí daquela merda de festa, procurando você e te encontrei. – Ela olhou bruscamente para trás e praguejou. – Droga meu ônibus, vem vindo. – Estendeu a mão com o isqueiro.

   – Não, leve com você, assim você vai ter um motivo a mais pra me encontrar.

   Ela sorriu e saiu andando a passos largos, carregando seus saltos e as meias enroladas na mão, até que em certo ponto Arthur a perdeu de vista.

   Nas noites seguintes, quase que diariamente Arthur a procurou pelos bares do Recife Antigo, mas era sempre em vão. Após duas semanas de buscas frustradas, ele pensou que nunca mais a veria. Mas essa era só a maneira do destino mostrar que as coisas só acontecem como ele quer e que na hora certa eles iriam se reencontrar.

Kris Monneska

3 comentários:

  1. Eu gostei muito do seu conto, você tem talento, Kris. Mas eu te deixo a dica: dá próxima vez, faz no ponto de vista feminino, pra pegar o lado mais sentimental da coisa, claro, sem abandonar a sensualidade. xD
    Abraço!

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    1. Mas a ideia, foi exatamente a de fugir do lado sentimental da coisa.
      Geralmente escrevo do ponto de vista feminino, por isso quis variar e escrever do ponto de vista do cara dessa vez ;)

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  2. Nossa, seu livro venderia mais que 50 tons de cinza. Amei!

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